Tendência ou poluição?
- Beatrice Baialardi
- 20 de nov. de 2022
- 4 min de leitura

Ao longo do tempo, a moda foi se consolidando como um forte meio de expressão e identidade na sociedade. No entanto, seu impacto ambiental não pode ser mascarado pela sua influência. Apesar de nos últimos anos suas consequências terem sido mascaradas pelas famosas tendências, modinhas ou “trends”.
Por ano, a indústria da moda libera 1,2 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa e 135 mil toneladas de roupas descartadas, além de ser a maior consumidora de água do mundo, depois da agricultura.

Exposição alemã “Fast-fashion: the dark side of fashion” ilustra os impactos sociais, econômicos e ambientais que a Fast Fashion ocasiona
Antes de tudo, tendência é aquilo que se consome por um curto período de tempo, ou seja, é algo rápido e passageiro. A Fast Fashion, criada em 1970 pela crise do petróleo, é um estilo que abraça essa ideia. Devido à proibição da venda de petróleo para os Estados Unidos, as empresas têxteis precisaram inventar um novo jeito de lucrar, mesmo em crise. Portanto, a criação de um conceito de uma moda obsoleta, o qual consiste em roupas fabricadas para a cultura de massa, com pouca durabilidade, custos mais baixos e com qualidade inferior, foi a solução para o problema.
A indústria fashion atual observa o comportamento dos consumidores e das marcas de elite, a fim de usar como base para a produção de suas roupas. Assim, há uma garantia maior de consumo e lucro. No entanto, essa fabricação está firmemente aliada a processos de alta rotatividade, obsolescência programada, condições precárias de trabalho e falta de direitos trabalhistas.
Nos dias de hoje, com a grande presença da mídia e outros meios de comunicação, a população sofre uma influência constante das propagandas apelativas. As áreas de Marketing, Design de Moda trabalham com estratégias da neurociência e da psicologia para estimular a compra, favorecendo o consumismo e o capitalismo. Além dessa manipulação, a necessidade de se encaixar em um grupo social e a busca para atingir o padrão de vida das classes sociais mais altas, também são protagonistas nos motivos das práticas consumistas. Logo, a indústria produz um determinado produto e utiliza a mídia para influenciar a sociedade, assim criando uma cultura consumista eterna, junto á uma reação de impactos em cadeia.

Ensaio de fotos em crítica à poluição causada pelas indústrias, principalmente o setor têxtil. A imagem retrata uma pilha de roupas da Fast Fashion e outros resíduos descartados.
Mais adentro, para se produzir uma peça de roupa, é necessário desmatar para obter a matéria-prima, usar fertilizantes e agrotóxicos para as fibras têxteis, extrair petróleo para transportar, e emitir gases do efeito estufa para produzir. Todo esse processo gera diversos danos ao meio ambiente e, quando feito em excesso, como na Fast Fashion, pode causar problemas irreversíveis. Por exemplo, a poluição do meio ambiente, já que grande parte dos produtos não reciclados vão para aterros sanitários e “montanhas” de lixo.
Além de tudo, a moda também é uma grande responsável pelas questões ambientais que temos enfrentado, como o desmatamento e o efeito estufa. Isso acontece devido a necessidade de se obter matéria-prima em excesso sem olhar para as negatividades deixadas para trás. Juntando todos os impactos das “modinhas” foram desenvolvidas as ilhas de lixo e o aumento da temperatura da Terra, problemáticas extremamente difíceis de serem resolvidas.
Em média, 17 a 20% da poluição da água industrial vem do tingimento e tratamento têxtil, com a presença de substâncias tóxicas de difícil remoção. Não suficiente, ainda usa-se até 29 mil litros por quilo de material para se produzir tecidos, sendo que a indústria produz cerca de 100 bilhões de peças de roupa ao ano.
Entretanto, a mudança começa na conscientização sobre o tema. A soma de pequenas ações se torna um movimento em conjunto, que pode modificar toda uma indústria. Cada atitude, de cada pessoa conta. Para isso, é necessário diminuir o consumo de roupas não universais, isto é, que não “sobrevivem” durante as décadas. Com isso, temos exatamente as tendências, que são muito usadas durante um curto período de tempo e depois descartadas na natureza. Um guarda-roupa deve conter vestes que sejam consumidas por anos, ou seja, que contenham durabilidade e versatilidade.
Também, pensar na possibilidade do aluguel e reciclagem de vestes, uso de peças sustentáveis, troca e Slow Fashion. O termo faz parte da Moda Sustentável e consiste no oposto da Fast Fashion, ou seja, uma moda descentralizada e em pequena escala, produzida muitas vezes em conjunto e sem ultrapassar os limites do meio ambiente.
Analogamente, a sustentabilidade está na moda! Celebridades como Emma Watson e Meghan Markle, além de marcas como Stella McCartney e Prada estão começando a participar do movimento. Ainda há diversas mudanças que precisam ser feitas na indústria, mas ideias como o Re-Nylon – substituir todo o nylon nas produções por um reciclado, que vem dos plásticos jogados no oceano – ganham fama a cada dia.
Contudo, a Moda Sustentável traz alguns problemas. Em primeiro lugar, ela não é barata se comparada a Fast Fashion, que tem como princípio uma maior acessibilidade para fins lucrativos. Além disso, não podemos adotá-la se não houver o enfoque na raiz do problema: o capitalismo. O motor desse sistema econômico é a acumulação de riquezas que, na área da moda, se dá pela alta demanda e produção de roupas. Também, o mundo deve mudar, e não só uma parte dele. Então, por mais que um grupo de pessoas ou indústrias altere sua produção e consumo, a alternativa deve ser global.
Portanto, a Moda Sustentável é uma boa alternativa para a indústria e sociedade, mesmo que seus problemas dificultem esse processo de transição. A Fast Fashion é um grande fator de degradação do meio-ambiente e, por isso, necessita ser reduzida cada vez mais. As indústrias e a sociedade devem agir juntas, lutando pelo mundo. Lembre-se, somos a última geração que pode salvar o planeta.
Por Beatrice Baialardi
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