Manifestações e seu impacto no processo de Doação de órgãos
- Douglas Mota e Emmanuele Noura
- 20 de nov. de 2022
- 3 min de leitura

Você sabe quantas pessoas são doadoras de
órgãos no Brasil atualmente?
Segundo a própria Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE), a cada milhão de brasileiros, menos de 20 doam órgãos. Ainda assim, essas pessoas não têm sido valorizadas como deveriam.
Na noite de Terça-feira, dia 1° de Novembro, o bloqueio realizado por bolsonaristas em revolta pela perda da eleição de seu candidato impediu um paciente - que aguardava por um transplante cardíaco - de receber a doação do órgão. O doador era um jovem de vinte e um anos que estava internado e não resistiu, vindo a óbito devido a um traumatismo crânio-encefálico, e o paciente que receberia o coração seria um do estado de São Paulo. Contudo, o transporte de tal órgão exige rapidez, sendo necessário que o coração chegasse ao paciente em um período de até quatro horas. As rodovias bloqueadas fizeram com que isso não fosse possível.
Apesar de a crítica aos protestos ser nítida, não estamos aqui para discutir opiniões políticas. O que merece ser dito é que um ato já tão raro como uma doação de órgãos e tão fundamental quanto um transplante cardíaco não deveria ser visto como nada além de uma prioridade. Insatisfações com o resultado das eleições são comuns, contudo não deveriam ter impedido a salvação de uma vida, a doação de um coração - órgão já muito raro.
Embora a situação seja triste, o doador pode ser considerado muito generoso após sua trágica morte por traumatismo crânio-encefálico, já que cinco pessoas chegaram a ser beneficiadas por suas doações - dos rins, córneas e fígado.
Estranho pensar como temos o poder de salvar a vida de alguém, literalmente, dentro de nós, não? Os mesmos órgãos que nos mantêm vivos e os quais normalmente ignoramos a existência podem fazer um milagre para alguém em conjunto com a medicina, mas precisamos valorizar essa atitude de doação, já que, como foi anteriormente citado, ela é rara na população brasileira. Em nações como a Espanha, por exemplo, 40 a cada milhão de pessoas realizam a doação de órgãos.
É preciso dar valor e colaborar, para tornar possível que essas poucas doações valham a pena, em vez de priorizar outras atitudes pouco importantes em comparação à vida. Não impeça, não deixe que uma doação seja à toa, e se possível se torne um doador como o jovem de 21 anos de Goiás. Sem esquecer, jamais, que a saúde é um dos direitos mais básicos de todo ser humano, e que deve ser priorizada, independente das pessoas, dos locais ou das circunstâncias.
O primeiro passo em direção a se tornar um doador de órgãos é avisar a sua família sobre seu desejo, uma vez que, somente após deliberação familiar os órgãos poderão ser doados. Indubitavelmente, a perda de um ente querido é uma situação difícil – como abordamos no mês passado – entretanto, é nesse momento de dor incessante, que uma luz pode se acender e a dor transformar-se em esperança, trazendo vida às pessoas na lista de espera.
Um caso de notória repercussão foi o falecimento do apresentador Gugu Liberato, em que a família seguiu a orientação do apresentador e doou todos os seus órgãos. Em carta publicada, como se próprio Gugu falasse com o público, afirmou: “Deus em sua infinita bondade nos dá a oportunidade da vida. Vivi minha jornada na Terra seguindo os ensinamentos que recebi de meus pais, Augusto e Maria do Céu. Com eles aprendi a importância de olhar para o próximo com amor e fraternidade. Agora eu sigo adiante por um caminho que me levará mais próximo ao Pai. E neste momento quero praticar os ensinamentos do mestre Jesus. Assim como ele compartilhou o pão com os seus, eu compartilho meu corpo com aqueles que necessitam de uma nova oportunidade de viver.” A louvável atitude da família Liberato nos ensina muito sobre amor, fraternidade, cidadania e empatia. Reforçando a necessidade e importância da doação de órgãos.
No Brasil, segundo Paulo Pêgo, cirurgião cardíaco do HCor (Hospital do Coração) uma pessoa pode esperar de 12 a 18 meses para conseguir um transplante de coração. Portanto, é inaceitável que umas paralisações ilegítimas corrompam o legado do doador e a esperança do receptor. Protestos são válidos e em uma democracia são fundamentais, outrossim, não podemos deixar a indignação surrupiar nossa humanidade.
Em suma, converse com sua família e demonstre seu desejo de doar seus órgãos, caso o pior aconteça. Ademais, os hospitais ao redor do país encontram-se em uma situação crítica, as doações de sangue caíram 20%. Com isso, podemos fazer a diferença hoje. Doe sangue e converse com sua família sobre a doação de órgãos.
Por Dêmia Emmanuele Noura e Douglas Mota.
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