Luto fora das redes sociais, entenda como ele funciona
- the notebook
- 9 de out. de 2022
- 3 min de leitura

Neste mês, o mundo despediu-se da monarca com o segundo maior reinado da história humana. Com isso, diversos debates moldaram as rodas de conversa, entretanto o que mais chamou nossa atenção foram as questões referentes ao processo de luto. Coincidência, ou não, minha Bisavó faleceu dois dias após a rainha e chamava-se Elizabeth também. A partir do momento que um ente querido falece a dor, raiva e o sentimento de poder ter feito mais nascem como uma bomba prestes a explodir. Talvez a morte tenha esse olhar de “cigana oblíqua e dissimulada”, pois não conseguiríamos olhá-la diretamente, com o luto não existe “teti a teti”, tudo que desejamos é fugir, para que aquela dor desapareça, mas paradoxalmente ficamos inflexíveis e com vontade de lançar um grito uníssono ao universo e pedir que respeitem a minha dor, vontade de quebrar os carros de som, de pedir que parem de rir e que parem de reclamar. Entretanto, a real vontade é que parem de dizer que acabou, pois seu coração, ainda não aceitou.
Somente durante um velório descobrimos como frases que costumávamos a dizer, pois pensávamos reconfortar o enlutado soam vazias, inesperad
amente os “meus sentimentos, condolências e pêsames” e diversos outros dizeres não ajudam, nem confortam quem sente a dor, mas sacia a vontade do outro em expressar o seu pesar. Ademais, uma frase me intriga e desespera “Ela está em um lugar melhor”, me intriga, pois como alguém pode ter tamanha certeza de que ela realmente está em um lugar melhor e desespera por esse lugar melhor não ser ao meu lado.
O luto corrompe a alma e falar dele não está na nossa cultura, com isso
pergunto-me: como superá-lo se não falamos sobre? A resposta mais simples seria dizer que não superamos, e talvez haja realidade nesta resposta simplória, entretanto o luto não é um sentimento simples, e suas nuances precisam ser analisadas a fim de encontrar uma resposta elucidativa. Portanto, partindo do pressuposto de que o luto é árduo, não falar sobre, pode ser uma estratégia para não sofrer.
Porém, uma das coisas mais prejudiciais para a saúde segundo a própria medicina é guardar e acumular os próprios sentimentos em vez de lidar com eles da forma certa. Somos humanos ao fim de tudo, e ter sentimentos que reagem às situações que vivemos é algo natural e saudável. Em uma situação difícil como essa, é importante ler sobre e respeitar cada uma das fases do luto, sendo elas: negação, raiva, barganha, depressão e, enfim, aceitação.
O isolamento ocorre no primeiro estágio, se trata da dificuldade de aceitar a notícia da morte e funciona como uma defesa, para que o sujeito possa se acostumar com essa situação. Quando já não é mais possível negar o ocorrido, a segunda fase se inicia, trazendo um comportamento de revolta e séria dificuldade para superá-lo.
Já na barganha, a pessoa passa a ter certa esperança de uma cura divina ou certo prolongamento da vida em troca de méritos e ações que promete ter. O próximo estágio se resume à pala
vra saudades. A dor constantemente presente de ver que esse alguém não está mais ali e jamais voltará, bem como a própria mente assombrada com lembranças felizes ou de arrependimento. Um vazio no peito e a sensação de solidão, mesmo que ainda haja sete bilhões de pessoas no mundo. É nessa fase, no entanto, que as emoções começam a se acalmar, e lideram para a última etapa. Após externar sentimentos e angústias, inveja pelos vivos e sadios, raiva pelos que não são obrigados a enfrentar a morte, lamento pela perda iminente de pessoas e de lugares queridos, a tendência é que o paciente terminal aceite sua condição e contemple seu fim próximo com mais tranquilidade e menos expectativa.
Jô Soares, Michael Jackson, Rainha Elizabeth… Famosos ou pessoas que simplesmente conhecemos, que fazem parte da nossa família, todos têm o mesmo destino no final. É melhor aprender a lidar com o inevitável e se permitir ter ajuda para enfrentar uma situação difícil como essa, do que se entregar completamente ao luto e esquecer que uma das coisas que mais importam é dar valor à vida enquanto ela ainda está presente.
- Douglas Mota e Dêmia Emmanuele Noura
Comentarios